sexta-feira, 27 de julho de 2007

Carta Aberta ao Presidente da CEP, por ocasião da Celebração do Centenário do Escutismo

Barcelos, 26 de Julho de 2007


Ex.mo Sr. Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Reverendo Senhor Dom Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga e Primaz das Hespanhas:

Que a paz esteja connosco.

Quis a Conferência a que preside dedicar ao Escutismo uma nota pastoral a 19 de Abril do corrente. No seu primeiro ponto, ela reconhece a universalidade do escutismo e do seu método e por conseguinte, a sua abertura a indivíduos de vários credos. Aponta também, com toda a propriedade, a existência de organizações escutistas confessionais e outras interconfessionais. No segundo ponto, relata-se um pouco da história do Corpo Nacional de Escutas, Escutismo Católico Português (CNE-ECP) e saúdam-se as outras associações escutistas do país. No terceiro ponto, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) alude ao potencial do método escutista e a sua convergência com a educação para a fé, terminando então com uma acção de graças pelos frutos que o Movimento produziu.

Quis também o Papa Bento XVI, em missiva ao Cardeal Jean-Pierre Ricard, de 22 de Junho último, destacar a formação integral que o escutismo proporciona e por outro lado, apelar à unidade das associações escutistas católicas francesas (Scouts et Guides de France, Scouts et Guides d’Europe, Scouts et Guides Unitaires de France). Este gesto, embora colida com as determinações da Organização Mundial do Movimento Escutista (WOSM) por reconhecer a existência de três associações escutistas católicas em França, é um gesto genuíno de coragem, generosidade e de paz.

Gostaria agora de destacar um aspecto que considero essencial no método escutista e que contribui para a sua actualidade: o seu destinatário. O escutismo dirige-se a indivíduos, a jovens educados pela acção diária. A importância dada ao indivíduo não pretende de qualquer forma promover tendências hedonistas; trata-se, isso sim, de um individualismo comprometido, responsável e atento ao seu meio.

Dir-lhe-ia por isso que o mundo nos tem dado sinais. Sinais que tenho procurado interpretar da melhor forma que posso e sei. Sinais dos outros, de pessoas com quem nos cruzamos todos os dias, que partilham connosco o seu dia-a-dia. Refiro-me concretamente aos imigrantes oriundos do leste europeu, pertencentes a Igrejas Ortodoxas, que rezam o mesmo Credo que os católicos romanos.

A Igreja Católica tem sabido dar resposta ás necessidades destes nossos irmãos cristãos, cedendo-lhes templos para celebrações litúrgicas, promovendo por várias outras vias a sua integração na nossa sociedade. O CNE-ECP, porém, não tem uma resposta concreta para dar a estes nossos irmãos baptizados. A criação de obstáculos à entrada destes nossos irmãos na nossa associação é bastante simples, em particular porque o Textos Oficiais e o conhecimento dos animadores adultos não se adequam a um desafio deste cariz.

Contudo, este problema não é novo. Há muito que há no nosso país, jovens impedidos de pertencer ao Movimento Escutista pela sua fé e pelo entendimento restrito daquilo que podem ser as boas práticas dos católicos. Concretizando, sabemos que a Associação de Escoteiros de Portugal (AEP) e a Associação de Guias de Portugal (AGP), as associações escutista e guidista interconfessionais em Portugal, têm pouca implantação territorial. Por sua vez, o CNE-ECP, é a maior associação juvenil do país, marcando presença em grande parte do território nacional. Há por isso que reconhecer à nossa associação, a responsabilidade principal na implantação e expansão do Movimento em Portugal. Será por isso inevitável que o CNE-ECP repense as condições de admissão dos seus associados e por conseguinte, a sua confessionalidade. Mais uma vez, friso, repensar a confessionalidade sem abdicar dela, reconhecendo que não pode haver escuteiro que não participe na obra de Deus.

As opções são variadas e apresento em seguida algumas por ordem crescente de dificuldade de realização: permitir a admissão de cristãos de outras confissões religiosas com um assistente da sua confissão designado para o efeito; da mesma forma, permitir a admissão de todos os crentes em qualquer religião; caminhar no sentido da união das três associações oficialmente reconhecidas em Portugal (AEP, CNE-ECP, AGP), sem abdicar da confessionalidade e da assistência aos grupos que a desejem preservar.

Para terminar, gostaria apenas de referir o recente projecto de paz construído no Ulster entre católicos e protestantes. Repare-se também que na República da Irlanda, a 1 de Janeiro de 2004, ocorreu a fusão entre duas associações escutistas: uma interconfessional (Scout Association of Ireland) e outra católica (Catholic Scouts of Ireland). São sinais que o mundo nos dá. Sinais que pedem a atenção dos Bispos portugueses aquando da tomada de decisões, no alvor do segundo centenário do escutismo. São sinais de paz.

Despeço-me ficando,

SEMPRE ALERTA PARA SERVIR!


Luís Pinho da Silva, Dirigente do Agrupamento 13 – Alcaide de Faria do CNE - ECP

10 comentários:

Anónimo disse...

A intenção é boa, mas implica alterações profundas na dinâmica da nossa Associação. A acontecer, teria de ser muito bem pensado. A liberdade de uns deve ir até onde não interfere com a liberdade dos outros...

Toonman disse...

implicaria alterações enormes.
mas é uma boa proposta e uma boa reflexão.
eu era tipo para subscrever.

Anónimo disse...

Parece-me interessante mas isso implicava era o papel da igreja católica fosse partilhado com outras confissões na tomada de decisões, nomeadamente os agrupamentos teriam de ter assistentes religiosos de outras confissões religiosas que teriam o mesmo poder que os nossos têm actualmente.
Nas associações europeias em que se fez a união de várias associações o resultado foi sempre o de perda da força das religiões nas decisões. A título de exemplo a possibilidade de uma lista para a Junta Central ter de ser aceite préviamente muito provavelmente desapareceria e o CNE deixaria de ser igreja para passar a ser Igrejas...

Anónimo disse...

«Contudo, este problema não é novo. Há muito que há no nosso país, jovens impedidos de pertencer ao Movimento Escutista pela sua fé e pelo entendimento restrito daquilo que podem ser as boas práticas dos católicos. Concretizando, sabemos que a Associação de Escoteiros de Portugal (AEP) e a Associação de Guias de Portugal (AGP), as associações escutista e guidista interconfessionais em Portugal, têm pouca implantação territorial. Por sua vez, o CNE-ECP, é a maior associação juvenil do país, marcando presença em grande parte do território nacional.»

1- porque será que a AGP e a AEP têm pouca implatação?

2- Porque tem de ser o CNE-ECP a mudar.

3- Qem não está muda-se e cria as alternativas.

Se vês as coisas por esse prisma e te preocupas com isso, faz o que a tua consiencia te diz. Sais do CNE-ECP e crias a AEP na tua terra. E luta para que a AEP possa dar resposta nos outros locais onde seja necessario.

Agora não queiras a Igreja Católica para o que te dá jeito, e criticas o que não te interessa.


Porque a grande mplatação do CNE-ECP deve-se em grande parte a IGREJA CATOLICA.

Anónimo disse...

"repensar a confessionalidade sem abdicar dela, reconhecendo que não pode haver escuteiro que não participe na obra de Deus."

Se não se participar na obra de deus não se pode ser escoteiro?
Não estava à espera de ouvir ou ler isto em pleno século 21.
Esta afirmação é desconcertante!

Anónimo disse...

Caro chefe:
Informo-o que sou catolico não particante e fui escuteiro do CNE-ECP,respeito a associciação como respeito os AEP e as AGP.
Tenho lugar cativo do forum CNE-ECP,com a alcunha de pp2006(caso esteja enteressado em discutir comigo pode mandar uma mensagem privada)e tenho com as melhores formas educar os restantes dirigentes e elementos,aprender com a vida dos outro e sugerir.Com muito educação,respeito e humilidade.
O meu comentário depois de ler a sua carta,é do minimo um a quanto duvidosa,visto que é dirigente do CNE-ECP e se calar não conhece a FEP(Federação de Escoteiros de Portugal)que une CNE-ECP,AEP e AGP.

Anónimo disse...

O CNE é um movimento católico romano. Tem havido dificuldades na sua assunção enquanto tal ao nível local.
Mas é.
Se deixar de ser, deixa de ser CNE.
Isto não é discriminação, não é segregação, não é nada do que querem fazer crer.
Uma carta aberta destas é uma forma velada de tentar, sob a máscara do ecumenismo, da tolerância, acusar o CNE e a Igreja de movimento discriminatório.
Deixem-nos ser católicos. A liberdade religiosa é linda para todos, em Portugal, mas cada vez menos para nós, católicos romanos, que quase temos de pedir desculpa pelo que somos.

Anónimo disse...

Caros Irmãos e Companheiros

Acho esta reflexão bastante refrescante.

Desde as penúltimas eleições que pergunto aos candidatos para quando a unificação das 3 associações, independentemente do modelo, se o irlandês, se o brasileiro,etc.

Relativamente ao comentário de PNCOSTA, e não tendo muito tempo estes dias, recomendo a leitura do 5º Escolho, capítulo d' "O Caminho do Triunfo" ;)

SAPS
Rui Domingos
dom.rui@gmail.com

Anónimo disse...

faça a sua revolução interna...
mas por favor, não fale das outras realidades associativas se não as conhece por dentro...

e por favor caros comentadores... não digam "os AEPs" primeiro é Associação dos Escoteiros de Portugal é feminino não masculino ok!? segundo se querem usar uma abreviatura digam Escoteiros de Portugal que é assim que está nos nossos estatutos!

Baco disse...

Antes de mais - e como manda a Boa Educação - SAUDAÇÕES ESCO(U)TISTAS para todos.
Apresento-me: José Nelson Teixeira Vasconcelos (Totém: Baco), ex-(e sempre) Escoteiro-Chefe da AEP.

Louvo a audácia do Chefe Luís Pinho da Silva ao lançar a debate um tema tão escaldante e, contudo, tão actual.
Sem querer protagonismos, revejo-me na posição deste Companheiro. Há cerca de 25 anos atrás lancei igual espectro no seio da AEP (e quase fui "chicoteado" por proferir "tamanha blasfémia").
Os tempos obrigam as mudanças. Elas só tardam na sua espontaneidade e normal percurso porque o ser humano é avesso a tudo o que signifique mudança (mesmo sabendo que essa mesma mudança só trará benefícios e reporá a verdade e o caminho certo das coisas).
Senti-me, por vezes, perturbado no meio dos demais companheiros quando evocava a minha opinião sobre o tema. Perguntei-me repetidas vezes se estaria a ser ousado demais, se estaria a ser utópico, se não estaria a ser injusto, irresponsável, etc., etc.
Mas depois de tanto meditar, depois de recolher mil e uma opiniões, depois de muito dialogar sobre o tema, fico cada vez mais convencido da sua actualidade, da sua premência.
Acho que devo argumentar o (quase) inverso do que agora se discute. Nos primórdios do aparecimento do Escotismo em Portugal verificou-se o nascimento de três Associações (AGP, AEP e CNE) comungando os mesmos Objectivos, os mesmos Ideais, os mesmos Princípios. E mais, tendo como único Fundador Baden Powell. O que é certo é que razões houveram que justificaram essa tri-partidarização de um único Movimento de Juventude. Neste momento vive-se a situação inversa: as razões para a unificação crescem e - a meu ver, também - originarão, mais cedo ou mais tarde, a uma tomada de posição.
Embora tenha sempre defendido tal unificação, também sempre propus um amplo debate, o esgrimir de todos os argumentos possíveis para que esse passo (a ser dado) esteja solidamente assente. Sou de opinião que este fórum está, concerteza, a contribuir para tal debate - que se impõe cada vez mais alargado e mais difundido.
Espero sinceramente ter contribuído para enriquecer a discussão à volta de um tema polémico, audaz, mas sobretudo necessário e, julgo eu, inevitável.
Saudações.