sábado, 7 de julho de 2007

Abrir a chaga 4 (O contra-poder errante)

Bento XVI, o papa Joseph Ratzinger, escreveu uma carta ao Presidente da Conferência Episcopal Francesa, o Cardeal Jean-Pierre Ricard. A agência Ecclesia publicou uma notícia que a refere, elevando alguns aspectos mais importantes que o papa aponta no escutismo: a formação integral (por conseguinte, também religiosa) que o Movimento proporciona. Refere também uma exortação à unidade do escutismo católico.

Ora, lendo atentamente a carta, facilmente podemos perceber que o que Bento XVI pretende fazer é reforçar o pedido de João Paulo II em 1997, da união das três associações católicas francesas: Scouts et Guides de France, Guides et Scouts d'Europe, Scouts Unitaires de France. O centenário do escutismo parece ser apenas um pretexto para falar de um problema simples e que preocupa a Igreja Católica: Guides et Scouts d'Europe não são reconhecidos pela WOSM porque são uma associação transnacional, Scouts Unitaires de France divergiram em 1971 dos, ao tempo, Scouts de France porque pretendiam manter a divisão etária 12-17 anos, em detrimento da criação de novas divisões 12-14, 15-17. E houve já quem reagisse.

É bom referir que o escutismo é um movimento uno, mas diverso. Um dos motivos para a diversidade de opções associativas é precisamente a religião, opções que por vezes, permitem torná-lo melhor instrumento de transmissão de fé. Contudo, o escutismo tem uma ordem própria. Tem princípio e fim em si mesmo e não depende das orientações organizacionais de nenhuma autoridade religiosa.

A sugestão de Bento XVI é perigosa porque reconhece a prática de escutismo a associações que não são reconhecidas pelo Movimento (WOSM e WAGGGS) e porque não aponta um caminho para a sua integração nele. É um contra-poder errante.

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