Ex.mo Sr. Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Reverendo Senhor Dom Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga e Primaz das Hespanhas:
Que a paz esteja connosco.
Quis a Conferência a que preside dedicar ao Escutismo uma nota pastoral a 19 de Abril do corrente. No seu primeiro ponto, ela reconhece a universalidade do escutismo e do seu método e por conseguinte, a sua abertura a indivíduos de vários credos. Aponta também, com toda a propriedade, a existência de organizações escutistas confessionais e outras interconfessionais. No segundo ponto, relata-se um pouco da história do Corpo Nacional de Escutas, Escutismo Católico Português (CNE-ECP) e saúdam-se as outras associações escutistas do país. No terceiro ponto, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) alude ao potencial do método escutista e a sua convergência com a educação para a fé, terminando então com uma acção de graças pelos frutos que o Movimento produziu.
Quis também o Papa Bento XVI, em missiva ao Cardeal Jean-Pierre Ricard, de 22 de Junho último, destacar a formação integral que o escutismo proporciona e por outro lado, apelar à unidade das associações escutistas católicas francesas (Scouts et Guides de France, Scouts et Guides d’Europe, Scouts et Guides Unitaires de France). Este gesto, embora colida com as determinações da Organização Mundial do Movimento Escutista (WOSM) por reconhecer a existência de três associações escutistas católicas em França, é um gesto genuíno de coragem, generosidade e de paz.
Gostaria agora de destacar um aspecto que considero essencial no método escutista e que contribui para a sua actualidade: o seu destinatário. O escutismo dirige-se a indivíduos, a jovens educados pela acção diária. A importância dada ao indivíduo não pretende de qualquer forma promover tendências hedonistas; trata-se, isso sim, de um individualismo comprometido, responsável e atento ao seu meio.
Dir-lhe-ia por isso que o mundo nos tem dado sinais. Sinais que tenho procurado interpretar da melhor forma que posso e sei. Sinais dos outros, de pessoas com quem nos cruzamos todos os dias, que partilham connosco o seu dia-a-dia. Refiro-me concretamente aos imigrantes oriundos do leste europeu, pertencentes a Igrejas Ortodoxas, que rezam o mesmo Credo que os católicos romanos.
A Igreja Católica tem sabido dar resposta ás necessidades destes nossos irmãos cristãos, cedendo-lhes templos para celebrações litúrgicas, promovendo por várias outras vias a sua integração na nossa sociedade. O CNE-ECP, porém, não tem uma resposta concreta para dar a estes nossos irmãos baptizados. A criação de obstáculos à entrada destes nossos irmãos na nossa associação é bastante simples, em particular porque o Textos Oficiais e o conhecimento dos animadores adultos não se adequam a um desafio deste cariz.
Contudo, este problema não é novo. Há muito que há no nosso país, jovens impedidos de pertencer ao Movimento Escutista pela sua fé e pelo entendimento restrito daquilo que podem ser as boas práticas dos católicos. Concretizando, sabemos que a Associação de Escoteiros de Portugal (AEP) e a Associação de Guias de Portugal (AGP), as associações escutista e guidista interconfessionais em Portugal, têm pouca implantação territorial. Por sua vez, o CNE-ECP, é a maior associação juvenil do país, marcando presença em grande parte do território nacional. Há por isso que reconhecer à nossa associação, a responsabilidade principal na implantação e expansão do Movimento em Portugal. Será por isso inevitável que o CNE-ECP repense as condições de admissão dos seus associados e por conseguinte, a sua confessionalidade. Mais uma vez, friso, repensar a confessionalidade sem abdicar dela, reconhecendo que não pode haver escuteiro que não participe na obra de Deus.
As opções são variadas e apresento em seguida algumas por ordem crescente de dificuldade de realização: permitir a admissão de cristãos de outras confissões religiosas com um assistente da sua confissão designado para o efeito; da mesma forma, permitir a admissão de todos os crentes em qualquer religião; caminhar no sentido da união das três associações oficialmente reconhecidas em Portugal (AEP, CNE-ECP, AGP), sem abdicar da confessionalidade e da assistência aos grupos que a desejem preservar.
Para terminar, gostaria apenas de referir o recente projecto de paz construído no Ulster entre católicos e protestantes. Repare-se também que na República da Irlanda, a 1 de Janeiro de 2004, ocorreu a fusão entre duas associações escutistas: uma interconfessional (Scout Association of Ireland) e outra católica (Catholic Scouts of Ireland). São sinais que o mundo nos dá. Sinais que pedem a atenção dos Bispos portugueses aquando da tomada de decisões, no alvor do segundo centenário do escutismo. São sinais de paz.
Despeço-me ficando,
SEMPRE ALERTA PARA SERVIR!
Luís Pinho da Silva, Dirigente do Agrupamento 13 – Alcaide de Faria do CNE - ECP